30.3.09

Optimismo levitante

A dedicatória era singela, amiga: «quando folheares este livro lembra-te dos dois dias de grande camaradagem que passámos no Redondo, 14/8/56». Encontrei-a, mal arrumada, na estante de literatura de ficção portuguesa, a edição tirada em 1956 pela Livraria Tavares Martins do livro A Alegria, a Dor e a Graça de Leonardo Coimbra, a que o editor juntou o diálogo Do Amor e da Morte. Estava num alfarrabista em Coimbra, um primeiro andar de preciosidades. Obra revista e prefaciada por Sant'Anna Dionísio, comemorativa de vinte anos do desaparecimento do filósofo. De ambos aqui falei, ainda ontem precisamente, tudo a evidenciar que o acaso é uma preguiça do espírito para não se confrontar com o embaraço dos acontecimentos destinados. «Podeis dizer que os indivíduos permanecem, porque, se acendeis a luz, eles surgirão», escreve o magnífico autor de A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre. Uma escrita de um «optimismo levitante» lhe chamou o prefaciador. Necessária escrita, indispensável optimismo, chegado a Lisboa, ferroviariamente.

29.3.09

Começar de novo

«Pensamento madrugante», chamou Sant'Anna Dionísio à filosofia de Leonardo Coimbra. Apanhei a frase esta manhã ao folhear os estudos que o teólogo Ângelo Alves dedicou ao que chamou o «filósofo da liberdade e do amor infinito».
Diabolizado por tantos devido à sua conversão à fé católica, que manifestou em acto oficiado pelo excelso Padre Cruz, Leonardo chegou ao culminar desse encontro com a Graça depois de um torturado percurso espiritual. «Curiosamente, a primeira loja maçónica em que se filiou intitulava-se "Luz e Caridade"», escreve Ângelo Alves.
Terei já eu citado aqui a sua frase, pináculo de intranquilidade fazedora «qualquer dia dou por írrito e nulo tudo o que tenho feito e começo de novo»?. Talvez não. Um bom domingo. Em paz.

23.3.09

A arte de continuar português

Vem hoje à luz do dia a Fundação António Quadros, apresentada no Círculo Eça de Queirós. Vingando, dará corpo a que não se perca o pensamento de um homem que disse um dia: «Quero ser um princípio e não um fim. que, depois de mim, as tempestades sejam outras e as lágrimas mais leves!». Se há momentos de uma filosofia que marcam um destino, o que ele escreveu sobre o mal do positivismo traçou-me a rota mental. Pela sistemática organizadora, pela originalidade criativa, pela pedagogia exemplar, pela ousadia cívica, pelo amor patriótico, pela íntrínseca bondade humana, tornou-se um símbolo e, sem que o sonhasse, a explicação de um mistério que o continuaria. Num tempo novo em que frutifica, a Filosofia Portuguesa ganha outra força e vigor.