29.1.06

Uma leitura esperançosa

Eu admito que o António Telmo não seja fácil, mas também foi má ideia, já exaurido, levar para fim de semana um ensaio seu, pequeno que fosse e no caso é mínimo, que ele escreveu em 1963 sobre o Henri Bergson, o filósofo francês que tentou a superação do positivismo e que é um dos muitos esquecidos prémios Nobel da Literatura. Talvez pelo facto de o livro se chamar «Arte Poética», lá foi, comigo esperançoso em vencer com ele a vida prosaica a que me sujeito. Mas confesso, ainda tentei entrar nas suas poucas folhas, só que não fui capaz. Apenas ficou uma frase logo do pincípio, que é nos livros onde logo se desiste se continuar, e que ainda sublinhei: «a lembrança é um movimento especulativo da memória; a recordação uma memória activa repassada de emoções». Se isto for assim e verdadeiro, do livro tenho uma má recordação, uma nula lembrança e uma escassa memória. Ou seja, tenho, em suma, de de lembrar que o melhor é lê-lo à semana: pode ser que vá!

27.1.06

A quididade do vinho

Tentando explicar se há uma «filosofia portuguesa» ou um «filosofar em Portugal» o Jesué Pinharanda Gomes, entrando pela intersecção do género para a espécie, dá o exemplo do vinho do Porto, que, na sua particularidade, não contradiz a universalidade do conceito de vinho. O autor do «Dicionário de Filosofia Portuguesa», para chegar à sua conclusão, segue um caminho aristotélico: pois que «próprio» é o que «mesmo não sendo a essência de uma coisa só a esta pertence», a essência do vinho do Porto é «vinho», o próprio é o «do Porto», que denomina a quididade daquele vinho, pelo qual ele se distingue dos outros! Há argumentos sólidos, outros líquidos, destes uns quantos embriagantes.

26.1.06

A um Deus ignoto e ignorado

Há no último número dos «Teoremas de Filosofia» um apontamento, escrito por Eduardo Soveral, sobre a obra e o pensamento de Amorim Viana, onde se diz que, tal como o intuira Cunha Seixas, não é a afirmação de Deus, mas sim a sua negação que levanta graves problemas, quer metafísicos, quer existenciais. Já tinha lido a frase e, inclusivamente sublinhei-a. Mas agora que li, há pouco, já nem sei onde, que não há verdadeiros ateístas, mas sim inúmeros anti-deístas, tudo isto passou a fazer sentido, um grave sentido e um não menos grave problema, não direi metafísico, mas no caso existencial. É que negar Deus já é, por estranho que pareça, acreditar n'Ele, pensando-o.E aí, mesmo o homem de fé perdida, já não tem salvação possível.

25.1.06

O quarto de uma laranja

Joaquim Francisco Telo Nunes Duarte Braga. Nasceu em Condeixa-a-Nova no dia 6 de Julho de 1925. Homem solitário, viveu em Queluz. Reformou-se de empregado bancário. Escreveu em 1959 um seu primeiro livro a que chamou «Teoria da Crença». A «Fundação Lusíada» editou-lhe os «Aforismos e Ensaios Filosóficos». Li-os há uns meses, essa sua amostra de uma obra de auto-didacta. Não é que tenha encontrado ali nada de extraordinário, ou no momento não estaria capaz de o achar. Mas voltei esta noite ao livro, pois houve, porém, uma frase que ainda hoje recordo e que sendo um provérbio chinês, é como se fosse parte dessa sabedoria universal, a mãe de todas as filosofias, a portuguesa nisso incluída: «um quarto de uma laranja tem o mesmo gosto de uma laranja inteira». Assim se saiba saboreá-la!

A segunda série

Este blog, como algumas revistas, vai entrar numa segunda série. Ao longo dos anos fui-me interessando, nas horas mortas, por aquilo a que se chama a «Filosofia Portuguesa». Não sei muito, mas talvez tenha alguma capacidade de incitar outros a saberem. Se assim for, terá valido a pena. Traçamos hoje a primeira linha dessa prancha. Haja sorte!

15.1.06

Um filósofo à mão de semear

As perguntas são inocentes, as respostas simplificadas. Mas a ideia é ter um filósofo à mão, a quem perguntar não importa o quê que pareça filosófico. O site é aqui. Uma das útlimas perguntas que um leitor lá colocou tem a ver com o interesse de se estudar filosofia. A resposta do filósofo de serviço é algo redonda, mas não deixa de dizer que através da filosofia se descobre que há muito tempo e muita energia perdidos à volta de questões sem sentido. Seguramente algumas das que lá estão calham que nem uma luva!